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Voo MH370 expõe falhas na aviação

Comunicação e rastreamento de aviões comerciais devem sofrer aprimoramento após desinformação envolvendo desaparecimento do Boeing 777 da Malaysia Airlines


No dia 7 de março, o voo MH370 da Malaysia Airlines desapareceu dos radares e até o fechamento desta edição não havia sido encontrado. O sumiço do Boeing 777-200, que levava 239 passageiros, de Kuala Lumpur para Pequim, revelou uma série de surpresas e desordens. Além do tradicional sensacionalismo, o caso levantou uma série de dúvidas e, provavelmente, mudará uma série de itens primordiais na aviação. Em 2009, quando o voo AF447 caiu no Oceano Atlântico, o Airbus A330 enviou uma série de mensagens pelo ACARS (­Aircraft ­Communications Addressing and Reporting System) alertando sobre diversas falhas. No caso do MH370, nenhuma mensagem anormal foi enviada, apenas a de que o ACARS fora desligado. Durante todo o voo, a tripulação manteve o código transponder definido pelo controle aéreo, não utilizando nenhum código de alerta. Da mesma forma, o ELT (Emergency Locator Transmitter), que envia sinais de emergência através do consórcio de satélites COSPAS-SARSAT, não foi ativado. A hipótese de uma despressurização explosiva, que teria destruído o Boeing, explicaria a perda instantânea do ACARS e da falta de qualquer comunicação de emergência, incluindo a mudança do código transponder, entretanto, não explica por que o ELT não foi ativado.

Autoridades de diversos países mobilizaram uma das maiores forças-tarefas dedicadas a uma missão de busca e salvamento, incluindo dezenas de navios e aviões, além do uso de diversos satélites. A Carta Internacional (International Charter), amplamente utilizada em caso de catástrofes, foi solicitada pela China quatro dias após o desaparecimento do voo. Com isso, os satélites de 15 países passaram a ser utilizados nas buscas pelo Boeing 777 da Malaysia. O acordo internacional foi firmado com o propósito de utilizar os meios espaciais em casos de emergências e, atualmente, envolve as agências espaciais de EUA, União Europeia, Japão, Brasil, Argentina, Índia e China. Após o desaparecimento do avião, a maior parte dos satélites utilizados para gerar imagens comerciais, meteorológicas e de pesquisas ambientais produzia imagens da região onde se concentram as buscas pelo Boeing. Por esse acordo, o material é cedido gratuitamente às autoridades envolvidas na missão de busca. Mesmo com o uso de satélites, além do COPAS-SARSAT, nenhum sinal de emergência foi captado e nenhuma imagem mostrou o local dos destroços.

A comunidade internacional também se viu diante de um novo desafio, a falta de transparência e organização das autoridades malaias, que entraram em um complexo e inexplicável jogo de contradições. A Malásia é conhecida por ter um regime político pouco transparente e autoritário, porém, ao que tudo indica, jamais houve no país a necessidade de criar uma cadeia de comando para lidar com situações extremas. Em especial na aviação, já que a Malaysia Airlines é considerada uma das mais seguras do mundo, com seu último acidente grave ocorrido em 1977. Com isso, as autoridades de diversos países questionam se a empresa não acabou deixando de lado questões importantes ligadas a emergências, pois claramente durante todos os dias a companhia não soube lidar com a pressão. Aliás, em momento algum reconheceu o acidente, se limitando a divulgar que as famílias devem esperar pelo pior. No último parecer antes do fechamento de AERO, trabalhava com a hipótese de desligamento deliberado dos sistemas de comunicação da aeronave por um ocupante do avião, tese reforçada pela informação de que a Rolls-Royce recebia normalmente os parâmetros do motor após o horário da perda de contato com o voo MH370. O que intriga as principais autoridades de aviação ao redor do mundo é como um avião poderia ter sido “sequestrado” e supostamente desviado de sua rota sem que ninguém tivesse reconhecido a ação. Sem o transponder, o controle aéreo ainda teria o avião no radar primário, que permitiria acompanhar a nova rota. Mesmo considerando que a cobertura radar na região é limitada, fica difícil imaginar como nenhum país da região teria captado um alvo desconhecido no radar.

Outro ponto importante diz respeito à divulgação das imagens de dois passageiros que estariam a bordo com passaportes falsos. Independe se eram terroristas ou não, a situação expos a fragilidade do controle de passaporte na maior parte do mundo. Segundo dados divulgados pela Interpol, dentre os 167 países membros da organização de polícia internacional, somente Estados Unidos, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos checam regularmente o banco de dados dos passaportes roubados existente desde 2002. Muitos aeroportos do mundo nem estão equipados para tal procedimento. A ironia é que mesmo a França, sede da Interpol, não costuma verificar regularmente o banco de dados sobre passaportes. Como consequência, apenas em 2013, mais de 1 bilhão de viagens foram feitas sem qualquer conferência sobre a autenticidade ou validade dos passaportes.

Ao longo da primeira semana do desaparecimento do MH370, uma série de teorias e eventos foi divulgada, sem qualquer confirmação. Assim como a área de buscas mudou constantemente, com alterações de perímetro e localização. O episódio envolvendo o Boeing 777 da Malaysia servirá para uma profunda revisão numa série de procedimentos, corrigindo, assim, as graves falhas que ficaram explícitas durante as buscas pelo avião.

Mistérios aéreos

Listamos alguns dos mais intrigantes episódios da aviação

Amelia Earhart
A aviadora americana ficou famosa por seu pioneirismo, em especial ao se tornar a primeira mulher a voar sozinha sobre o Oceano Atlântico Norte, além de estabelecer diversos outros recordes. Todavia, sua história ficou eternizada por sua morte em um acidente jamais explicado. Em 1937, o Lockheed Electra que Earhart pilotava desapareceu próximo à ilha Howland, no Oceano Pacífico, em meio a uma tentativa de dar a volta ao mundo. As buscas duraram quase dois anos, mas jamais foram encontrados quaisquer vestígios do avião.

StarDust
No dia 2 de agosto de 1947, o voo CS59, da British South American Airways deveria ter pousado no aeroporto de Los Cerrillos, em Santiago, mas jamais se aproximou da cidade. Às 17h41, a tripulação informou que o pouso era estimado em quatro minutos, mas o avião desapareceu sem enviar nenhum alerta ou pedido de socorro. Imediatamente uma missão de resgate foi organizada, mas as autoridades jamais encontraram qualquer vestígio do Avro Lancastrian que levava seis passageiros e cinco tripulantes. Na ocasião, a mensagem final, enviada em código Morse dizia “ETA Santiago 17h45 STENDEC”. A palavra final até hoje é um mistério e levou à criação de uma revista sobre UFO com o mesmo nome. Provavelmente, as letras foram enviadas sem uma ordem ou captadas de forma incorreta. Em 2000, alpinistas encontraram restos humanos e fragmentos de uma aeronave próximos ao vulcão Tupungato, na Argentina. Uma investigação confirmou se tratar do voo CS59, que colidiu com a montanha distante mais de 80 km de Santiago. Os investigadores concluíram que provavelmente a tripulação foi levada para a região do Tupungato por um jetstream, um fenômeno até então pouco conhecido.

Steve Fossett
O empresário Steve Fossett ficou famoso por inúmeras façanhas na aviação, como ter sido o primeiro a dar a volta ao mundo sem escalas em um balão. Após diversas tentativas, finalmente em 02 de julho de 2002 Fossett conseguiu realizar seu objetivo. Em 3 de setembro de 2007, após decolar de um aeroporto privado próximo a Smith Valley, o aviador desapareceu. As buscas incluíram o uso de diversos satélites comerciais que mapearam uma vasta área no deserto da Califórnia e Nevada, mas na ocasião nada foi encontrado. Por ter feito um voo visual, Fossett não apresentou um plano de voo e as equipe de resgate não tinham uma rota predefinida para vasculhar. Apenas em 2008, um alpinista encontrou a carteira de Fossett nas montanhas de Sierra Nevada. Uma nova busca foi realizada e os destroços do avião foram localizados. Semanas mais tarde, a carteira de motorista, um sapato e dois grandes ossos foram encontrados. Posteriormente, exames de DNA confirmaram como sendo do milionário.

Lady Be Good
O B-24D Liberator, utilizado pela então USAAF, batizado como Lady be Good, decolou de sua base na Líbia, para uma missão em Nápoles, na Itália, em abril de 1943, e nunca retornou. Por vários dias acreditou-se que o avião tivesse caído no Mediterrâneo e oficialmente foi declarado como “desaparecido em missão”. O avião voou por mais de duas horas no rumo errado, entrando cada vez mais dentro do deserto. Quando o avião começou a ficar sem combustível, a tripulação conseguiu saltar a tempo e oito dos nove tripulantes sobreviveram à queda. Porém, tiveram de marchar por mais de 160 km, enfrentando altas temperaturas durante o dia e o frio intenso à noite. Sem suprimentos, incluindo água, pouco a pouco a tripulação inteira sucumbiu. Em fevereiro de 1958, os destroços do Lady be Good foram encontrados ao sul da base de Soluch Field. Por estar relativamente intacto, as autoridades confirmaram que um dos motores ainda funcionava no momento da queda, assim como as metralhadoras que estavam em perfeitas condições quando o avião foi localizado.

Varig 967
O voo VARIG 967 decolou do aeroporto de Narita, em 30 de janeiro de 1979, com destino ao Rio de Janeiro. O Boeing 707-323C era operado pela Varig Cargo e deveria pousar em Los Angeles antes de continuar sua jornada para o Brasil. Porém, 22 minutos após a decolagem o avião fez seu último contato com o controle japonês, não reportando nenhum problema a bordo. O avião jamais foi encontrado e dezenas de teorias surgiram tentando explicar o caso, incluindo algumas um tanto absurdas. Entre as mais famosas está a de que o voo 967 levava a bordo o MiG-25, roubado pelo soviético Viktor Belenko, que, em 06 de setembro de 1976, fugira da URSS com seu caça, pousando em Hakodate, no Japão. Porém, o avião foi enviado aos EUA naquele mesmo ano, descartando, assim, qualquer chance de ter sido enviado num voo da Varig. Entre os tripulantes do voo 967 estava o comandante Gilberto Araújo da Silva, sobrevivente do acidente do voo Varig 820, que caiu nos arredores de Orly, matando 123 pessoas. A hipótese mais plausível é que o Boeing 707 tenha sofrido uma lenta despressurização, levando à perda de consciência de toda a tripulação. Com isso, o avião continuou voando até cair, milhares de quilômetros à frente, sem combustível.

Triângulo das Bermudas
Na tarde de 05 de dezembro de 1945, o Flight 19 decolou com seis TBM Avenger para um treinamento de rotina na costa da Flórida e horas depois desapareceram no ar entre o arquipélago das Bermudas e a cidade de San Juan, em Porto Rico. Horas depois, um Martin PBM Mariner foi enviado para auxiliar nas buscas, sumindo logo em seguida. Assim, se popularizou a lenda do enigmático Triângulo das Bermudas. Desde então, surgiram diversos relatos de aeronaves e navios que desapareceram na região. Todos de forma teoricamente inexplicável. Segundo as autoridades aeronáuticas do  EUA, o mais provável é que, após uma desorientação causada por problemas meteorológicos, a esquadrilha rumou perdida para algum ponto da costa americana, provavelmente tendo se acidentado ao norte da Flórida. Já o avião de resgate explodiu após uma falha mecânica. Outro caso popular envolvendo o Triângulo das Bermudas é o desaparecimento de dois aviões da British South Airways. Atualmente, acredita-se que um dos aviões explodiu em voo enquanto o outro caiu por falta de combustível.

TWA800
No inicio da noite do dia 17 de julho de 1996, um Boeing 747-100 da TWA caiu na costa do estado de Nova York, matando todos os 230 ocupantes. Embora o avião tenha sido rapidamente encontrado, uma série de teorias da conspiração surgiu, incluindo a de um espetacular atentado terrorista. Segundo essa versão, terroristas ligados a Al Qaeda utilizaram um míssil disparado de um barco para abater o jumbo. Um dos episódios que chamou atenção na época foi o envolvimento da CIA (Central Intelligence Agency) nas investigações. Oficialmente o avião caiu devido à explosão de um tanque de combustível que voava vazio. O gás formado pela evaporação do combustível detonou após um curto-circuito provocado por um fio desgastado.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 29/03/2014, às 00h00 - Atualizado em 03/04/2014, às 16h19


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