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Fim de uma era

Fabricante do maior avião do mundo encerra suas atividades

Após crise com Rússia na Crimeia, consórcio estatal da Ucrânia absorve Antonov e põe fim a 70 anos de história


A Antonov foi uma das maiores vítimas da crise entre a Ucrânia e a Rússia deflagrada após a anexação da Crimeia por Moscou. As autoridades da Ucrânia confirmaram a liquidação da Antonov Desing Bureau e a fusão de seus principais ativos ao conglomerado estatal Ukroboronprom.

A informação foi confirmada pelo Ministério do Desenvolvimento Econômico da Ucrânia. Segundo o governo, a integração se deve à crise financeira vivenciada pela Antonov. Se no passado a empresa se destacou pelo desenvolvimento e produção de gigantes como o An-22, o An-124 e o An-225, atualmente o fabricante vinha sofrendo com a falta de interesse do mercado por seus produtos.

Focada nos últimos anos em aeronaves de pequeno e médio portes, a Antonov vinha sofrendo uma série de reveses na venda de seus aviões regionais. Cada série conquistou entre 30 e 40 pedidos, em média. Já o cargueiro médio militar An-70, após quase 22 anos de desenvolvimento, não conseguiu obter nenhum pedido por parte das forças armadas da Rússia e da Ucrânia. Além disso, o programa consumiu valores consideráveis durante seu desenvolvimento, que exigiram diversas mudanças no projeto ao longo dos anos. O programa também previa a montagem dos exemplares russos em parceria com a KAPO (Kazan Aircraft Production Association), na planta de Kazan, na Rússia.

Em outubro de 2010, a Antonov e a russa UAC assinaram um acordo para formar uma empresa conjunta focada em marketing, vendas, design e produção de aviões militares, civis e de carga, bem como modificar antigos modelos Antonov. A parceria também foi desfeita com a escalada das tensões entre ambos os países.

Além da Antonov, diversos fabricantes aeroespaciais ucranianos enfrentam o mesmo problema em relação a seus acordos com os russos. As empresas mais afetadas são as localizadas no leste e no sul da Ucrânia, que possuíam diversos acordos de exportação com a Rússia, e também são dependentes de capital russo.

Gigantes com seis motores

A liquidação da Antonov como empresa independente coloca fim não apenas a uma icônica empresa oriunda da era soviética, mas também reduz drasticamente a possibilidade de retomada da produção do An-124. O modelo, que não é produzido há mais de 10 anos, teve algumas unidades modernizadas nos últimos anos. A força aérea russa estudava operar uma versão mais moderna do modelo, mas abandonou os planos devido aos elevados custos de produção e operação. O ministro da defesa da Rússia, Serguêi Shoigu, em recente pronunciamento, afirmou que a força aérea decidiu apenas reparar e modernizar os aviões em serviço, optando por um modelo menor e mais barato. Nas palavras do ministro apenas empresas aéreas dedicadas ao transporte cargueiro de grande porte necessitam de uma aeronave com as capacidades do An-124. “Quem precisa desse tipo do avião são as empresas civis comerciais envolvidas no transporte de cargas volumosas”, afirmou Shoigu.

O único An-225 produzido tem o futuro incerto. O governo ucraniano acredita que o avião ainda deverá ter um mercado cativo nos próximos anos, mas descarta a produção de novos exemplares ou mesmo a finalização do segundo avião.

A Antonov foi fundada há 70 anos se consagrou na produção de aeronaves cargueiras de grande porte, com destaque para os gigantes. Originalmente a sede da companhia estava em Novosibirsk, Rússia, sendo transferida em 1952 para a Kiev, onde permaneceu após o colapso da União Soviética.

Você sabia?
As famosas corcovas do An-225 não são o sistema ancoragem do ônibus espacial soviético Buran, mas, sim, reforços estruturais das enormes asas. Com envergadura de 88,4 metros e área total de 905 m², seu peso, aliado aos seis motores, era equivalente a quase metade do avião.

Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 10/02/2016, às 16h31 - Atualizado às 16h48


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